Plantas de corredeiras

reprodução e conservação de Podostemaceae

Autores

  • Inara C Silva Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro
  • Claudia P Bove Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro
  • Cristiana Koschnitzke Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro

Resumo

Rios com corredeiras são ambientes de forte pressão seletiva, o que limita o estabelecimento de muitas angiospermas. Nestes habitats se encontra uma família de angiospermas aquáticas de hábito herbáceo, aderidas às rochas em locais expostos ao sol, com uma morfologia única, Podostemaceae. Está essencialmente distribuída nos trópicos e apresenta alto grau de endemismos. No Brasil as espécies ocorrem em todos os domínios fitogeográficos,com mais de 53 espécies endêmicas. Realizamos aqui uma retrospectiva do estado-da-arte da biologia reprodutiva para a família, a fim de detectar as lacunas para o direcionamento de estudos futuros, sua importância na preservação de ecossistemas aquáticos lóticos, assim como um incentivo para o investimento nesta área de estudo. Os aspectos reprodutivos em Podostemaceae foram parcialmente estudados para menos de 20% da diversidade da família. A longevidade floral pode variar de poucas horas até 5 dias.A dicogamia está presente em algumas espécies, sendo a protoginia mais frequente. A autopolinização espontânea é o principal modo de polinização, sendo que em apenas duas espécies não foi observada a autopolinização espontânea. A polinização pelo vento é descrita como a mais comum, devido às flores inconspícuas, pólen leve e seco. A polinização por abelhas é relatada para as espécies que apresentam flores com odor, coloração rosa ou lilás, numerosos estames e oferecem pólen como recurso aos polinizadores. A polinização por díptera é relatada como acidental. Pode haver combinação entre diversos tipos de polinização, dentre as quais a autopolinização é acompanhada pela polinização por abelhas e/ou pelo vento e/ou por moscas. O sistema reprodutivo foi estudado em três espécies e todas são autocompatíveis. Infelizmente, os rios brasileiros sofrem grande pressão antrópica, principalmente pela construção de hidrelétricas, que afetam diretamente o desenvolvimento ou até mesmo levam ao desaparecimento de comunidades de Podostemaceae. Apesar da grande ameaça de extinção, de sua importância ecológica e da alta taxa de endemismo, poucas espécies de Podostemaceae constam em listas vermelhas ou apresentem estratégias de conservação. Os dados advindos da reprodução podem fornecer fontes importantes para o estabelecimento de estratégias de conservação, pois são fatores que influenciam diretamente as populações. Ademais, a manutenção in situ é a única forma viável de conservação para Podostemaceae.

Palavras-chave:

reprodução, conservação, reófitas, plantas aquáticas, Podostemaceae

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Inara C Silva, Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro

Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Claudia P Bove, Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro

Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Cristiana Koschnitzke, Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro

Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Referências

APG III (2009) An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG III. Botanical Journal of the Linnean Society 161: 105–121.

Bove CP (2014) Podostemaceae. In: Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: http://floradobrasil. jbrj.gov.br/jabot/floradobrasil/FB194. Acesso em: 01 Fev. 2014.

Bove CP, Santos-Filho LAF, Reis-Junior JS, Abreu MB (2013) Podostemaceae. In: Martinelli G e Moraes MA (org) Livro Vermelho da Flora do Brasil. Rio de Janeiro, Andrea Jacobson, pp 884-886.

Bove CP, Philbrick CT (2014) Rediscovery of a neotropical rheophyte (Podostemaceae) after 160 years: Implications for the location of conservation unit boundaries (Tocantins, Brazil). Checklist 10: 1170-1173.

Cook CDK, Rutishauser R (2007) Podostemaceae. In: Kubitzki K (ed) The Families and Genera of Vascular Plants. Berlin, Springer Verlag. 9: 304–344.

Engler HGA, Prantl AE (1930) Podostemaceae. In: Die naturlichen Pflanzenfamilien. Leipzig, Wilhelm Englemann 18: 1-61.

Gupta CK, Sehgal A (2009) Pollination biology of Indotristicha ramosissima (Podostemaceae: Tristichoideae). Aquatic Botany 91: 51-56.

Grubert M (1974) Untersuchungen über die Verankerung der Samen von Podostemonaceen. International Review Hydrobiology 55: 83–114.

Jäger-Zürn I (1997) Embryological and floral studies in Weddellina squamulosa Tul. (Podostemaceae, Tristichoideae). Aquatic Botany 57: 151-182.

Khanduri P, Chaudhary A, Uniyal PU, Tandon R. (no prelo) Reproductive biology of Willisia arekaliana (Podostemaceae), a freshwater endemic species of India. Aquatic Botany.

Khosla C, Mohan Ram HY (1993) Morphology of flower, fruit and seed in Polypleurum stylosum. Aquatic Botany 46: 255-262.

Khosla C, Shivanna KR, Mohan Ram HY (2000) Reproductive biology of Polypleurum stylosum (Podostemaceae). Aquatic Botany 67: 143-154.

Koi S, Kita Y, Hirayama Y, Rutishauser R, Huber KA, Kato M (2011) Molecular phylogenetic analysis of Podostemaceae: implications for taxonomy of major groups. Botanical Journal of the Linnean Society 169: 461–492.

Kita Y, Kato, M (2001) Infrafamilial phylogeny of the aquatic angiosperm Podostemaceae inferred from the nucleotide sequences of the matK gene. Plant Biology 3: 156-163.

Lloyd DG, Webb CJ (1986) The avoidance of interference between the presentation of pollen and stigmas in angiosperms I. Dichogamy. New Zealand Journal of Botany 24: 135-162.

Luna R, Guzmán-Merodio D, Núñez-Farfán J, Philbrick CT, Collazo-Ortega M., Márquez-Guzmán J. (2012) Cross compatibility between Marathrum rubrum and Marathrum schiedeanum (Podostemaceae), two closely related species of the Pacific Mexican Coast. Aquatic Botany 102: 1-7.

Marinho, EB (2013) Palinotaxonomia dos gêneros neotropicais de Podostemaceae. Dissertação de mestrado. Universidade Federal do Rio de Janeiro/Museu Nacional. Rio de Janeiro, Brasil.

Moza MK, Bhanagar AK (2007) Plant reproductive biology studies crucial for conservation. Current Science 92: 1207.

Mukkada AJ 1969. Some aspect of the morphology, embryology and biology of Terniola zeylanica Gardner Tulasne. New Phytologist 68: 1145-1158.

Okada H, Kado M (2002) Pollination systems inferred from pollen – ovule ratios of some species of Podostemaceae. Acta Phytotaxomica et Geobotanica 53: 51-61.

Philbrick CT (1984) Aspects of floral biology, breeding system, and seed and seedling biology in Podostemum ceratophyllum (Podostemaceae). Systematic Botany 9: 166–174.

Philbrick CT, Bove CP (2014a) Castelnavia monandra. In: IUCN 2014. IUCN Red List of Threatened Species. Version 2014.3. Disponível em:. Acesso em: 07 Junho 2014.

Philbrick CT, Bove CP (2014b) Devillea flageliformis. In: IUCN (2014) IUCN Red List of Threatened Species. Version 2014.3. Disponível em:. Acesso em: 07 Junho 2014.

Philbrick CT, Bove CP (2014c) Diamentina lombardii. In: IUCN (2014) IUCN Red List of Threatened Species. Version 2014.3. Disponível em:. Acesso em: 07 Junho 2014.

Philbrick CT, Bove CP (2014d) Podostemum saldanhanum. In: IUCN (2014) IUCN Red List of Threatened Species. Version 2014.3. Disponível em:. Acesso em: 07 Junho 2014.

Philbrick CT, Bove CP, Edson Jr TC (2009) Monograph of Castelnavia (Podostemaceae). Systematic Botany 34: 715-729.

Philbrick CT, Bove CP, Stevens HI (2010) Endemism in tropical Podostemceae. Annal Missouri Botanical Garden 97: 425-456.

Philbrick CT, Novelo AR (1995) New world Podostemaceae: Ecological and evolutionary enigmas. The New York Botanical Garden 47: 210-222.

Philbrick CT, Novelo AR (1997) Ovule number, seed number and seed size in Mexican and North American species of Podostemaceae. Aquatic Botany 57: 182–200.

Philbrick CT, Novelo AR (1998) Flowering phenology, pollen flow, and seed production in Marathrum rubrum (Podostemaceae). Aquatic Botany 62: 199–206.

Philbrick CT, Novelo AR (2004) Monograph of Podostemum (Podostemaceae). Systematic Botany Monographs 70: 1-106.

Philbrick CT, Vomela M, Novelo AR (2006) Preanthesis cleistogamy in the genus Podostemum (Podostemaceae). Rhodora 108: 195-202.

Primack RB, Rodrigues E (2003) Biologia da conservação. Londrina, Editora Planta.

Royen P (1954) The Podostemaceae of the New World. Part III. Acta Botanica Neerlandica 3: 215–263.

Rufhel BR, Bittrich V, Bove, CP, Gustafsson MHG, Philbrick CT, Rutishauser R, Zhenxiang XI, Davis CC (2011) Phylogeny of clusoid clade (Malpighiales): evidence from plastids and mitochondrial genomes. American Journal of Botany 98: 306-325.

Rutishauser R (1997) Structural and developmental diversity in Podostemaceae (river-weeds). Aquatic Botany 57: 29-70.

Rutishauser R, Gruber M (1999) The architecture of Mourera fluviatilis (Podostemaceae): developmental morphology of inflorescences, flowers and seedlings. American Journal of Botany 86: 907-922.

Sá-Haiad B, Torres CA, Abreu VHR, Gonçalves MR, Mendonça CBF, Santiago- Fernandes LDR, Bove CP, Gonçalves-Esteves V (2010) Floral structure and palynology of Podostemum weddellianum (Podostemaceae: Malpighiales). Plant Systematics and Evolution 290: 141-149.

Sehgal A, Khurana JP, Sethi M, Ara H (2010) Occurrence of unique three-celled megagametophyte and single fertilization in an aquatic angiosperm – Dalzellia zeylanica (Podostemaceae-Tristichoideae). Sexual Plant Reprodution 24: 199-210.

Silva, I.C. (2014) Características Reprodutivas de Três Espécies Neotropicais de Podostemaceae e suas Implicações Filogenéticas. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Museu Nacional, Rio de Janeiro, Brasil.

Sobral-Leite M, Siqueira Filho JA, Erbar C, Machado IC (2011) Anthecology and reproductive system of Mourera fluviatilis (Podostemeaceae): polination by bees and xenogamy in a predominantly anemophilous and autogamous family. Aquatic Botany 95: 77-87.

Sobral-Leite M (2009) Antecologia de Apinagia richardiana (Tul.) van Royen: múltiplas estratégias reprodutivas em Podostemaceae neotropica. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Pernambuco, Pernambuco, Brasil.

Tavares AS (1997) A família Podostemaceae de Alguns Rios de Água Preta do Estado do Amazonas. Tese de doutorado. Universidade Federal do Amazonas, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia- INPA, Manaus, Brasil.

Publicado:

2015-01-01

Downloads

Como Citar

Silva, I. C., Bove, C. P., & Koschnitzke, C. (2015). Plantas de corredeiras: reprodução e conservação de Podostemaceae. Natureza Online, 13(1), 7–11. Recuperado de https://naturezaonline.com.br/revista/article/view/130